COISAS QUE ESCREVI EM 2010
A PAIXÃO
No inebriar do mais puro silêncio
Tocada por ninguém
Vestida da mais pura nudez
Ela, a paixão
De tão grande magia
Tornou-se para mim inevitável...
Aproveitou-se da inocência que me cobria
Tomou-me para si.
Não obstante o desejo
Como um fogo ardente
Rasga o meu véu, me atiça
Suplicando você.
A paixão, de tão verdade ser
Me escraviza, me toma o corpo e me usa
Me condena...
Eu, réu confesso
Chicoteado pelo amor
Guardo o seu nome em meu coração
A sua imagem em minha mente
Prova ocular do meu amor por você.
(Carlos Klei - 2008)
A CURVA DA MORTE
E naquele dia
Numa estrada sombria
Na curva da morte
Corria... corria...
Com a visão embriagada
Quase fechada
Buscavam orgias.
E foi naquela noite
O maior pega que existiu
Quando o racha começou
O carro logo sumiu
Foi engolido por uma curva
Que de repente surgiu
E nos traiu.
E quem diria
Uma curva traiçoeira
Era quase dia
Toda alegria transformou-se
Em desgraça
Em correria.
E no outro dia
Ouviu-se comentário
Ele dormiu! E não viu
Que naquela estrada
Havia a curva da morte
Que os destruiu.
Uma viagem assim
Não acontece sempre
Jovens alegres demais
Meninos inocentes
Não puderam crescer
Não puderam ser gente.
E naquele dia houve tumulto
Muita correria
E a curva da morte
Tornou famosa
A estrada sombria.
E eles morreram
De morte igual
Na curva da morte
De forma brutal
Todos viram
E não quiseram entender
Apenas choravam
Perguntando – Por quê?
(Carlos Klei - A Elvis e Djalma)
VADIAGEM
Hoje só quero um dia bem mais que feliz
Não vou varrer, nem limpar, nem passar...
Rotinas diárias não irão me prender
Ah, eu quero mesmo é deixar a vida levar...
Vou viver intensamente hoje
E o amanhã, deixar acontecer
Quero mesmo é me jogar
Pular, correr, dançar...
Farei a dancinha da garrafa
Despertarei olhares vadios
Seriei vadia, safada, uma cachorra no cio
Serei a vida outorgada, rasgada, outrora negada (encubada)...
Subirei em mesas, ficarei despida
Serei o que sempre quis
Cuspirei na testa dos descontentes
E que se dane o pudor.
Serei homem, serei mulher
Serei bicha, serei padre
Me embriagarei sem limites
Farei tudo que me aprazer.
Sem receio, sem culpa – sem juízo – .
Quando o meu corpo cansar
Minhas pernas não suportarem mais
Cairei na real ao som da última canção
Porém, já sonhando com outros carnavais...
A festa findou, o dinheiro se foi
Minha energia esgotou e o sonho acabou.
A moral já não sei se restou
Mas, quer saber mesmo? Que se dane tudo
A língua alheia, a hipocrisia do mundo
O que realmente importa
É que me entreguei, vadiei
E feliz por um momento fiquei.
(Carlos Kley – 2010)
SOLIDÃO!
Diante de meus olhos, papel e caneta
E infinitamente longe de mim
Versos que nunca vêem
Enquanto um aperto sufoca meu peito
Dilacerando de forma impiedosa e lenta
Este pobre poeta do nada.
A madrugada rainha e soberana
Chega! Procurando o fogo das paixões
E eu? Maltrapilho, só sofrimento e dor
Tento direcionar meus pensamentos
Um ponto eqüidistante
Um equilíbrio entre mim e eu mesmo
Tarde demais! Solidão, apenas solidão.
Por um instante, lembro dos momentos felizes com você
Mas prevalece em mim o sabor amargo da solidão
A certeza de que você foi embora
Pra nunca mais voltar. Melancolia.
A madrugada está fria
E eu ainda não me encontrei
No papel, apenas versos desconexos,
Em mim, profusão de vazio
Um sentimento de que já a perdi.
Dirijo-me até a janela mais próxima
A lua como sempre exuberante
E ela (minha musa inspiradora) não está aqui.
Isso me basta, para que fique mudo
Enquanto minh’alma chora,
Por não tê-la em meus braços.
Quando estava comigo
Minha voz no vento ecoava baixinho
Declamando amores ao seu ouvido
Hoje já não a tenho mais.
Ah! Em noites como essa
Amávamos-nos sem limites
Eu a desejava tanto
E ela também me queria.
Mas também,
Como não ter amado se tão formosa era
Seus seios brandos e virgens
Sua boca carnuda, sedenta dos mais duradouros beijos.
A madrugada continua fria
Restam-me só lembranças
E o medo de que em outros braços
Ela esqueça meu acalanto.
A distância me desespera
Ouvir o silêncio da noite apenas, não basta!
Escrever o mais triste poema, isso eu não quero
Então, esperarei a próxima noite,
Quiçá, ela apareça deslumbrante e bela
Antes do meu desejo inverso.
Nesse momento, mais um papel rasgado
Alimentando a esperança
De um novo poema na próxima madrugada
Com versos que exprimam a alegria
Por ela (minha ninfa),
Ter voltado.
(Carlos Klei - 2009)
PRISIONEIRO SEU
Por várias vezes tentei te esquecer
E em todas elas, fracassei
Vaguei entre mim e eu mesmo
Virei minha vida pelo avesso
Desilusão... Já era tarde demais, e eu prisioneiro seu.
A sua face tal como uma miragem
Segue-me por toda a parte
Faz-se presente em todas as coisas
O meu olhar: ávido, incessante, incansável
Aprecia detalhadamente tua imagem em manifesto.
E os meus olhos brilham – uma estrela em êxtase.
O meu olfato, já não é mais meu
Perdi completamente toda sensibilidade
Aquele cheiro inconfundível (irresistível)
Que exalava naturalmente de seu corpo
Hoje como um perfume vive impregnado em mim
Essência divinamente providenciada.
Toda minha forma de expressão
Carrega implícito um gesto seu
Traz resquícios de nós dois
Percebo então, que apesar da distância
Você é parte contígua de mim.
Como se pode ver:
Eu fracassei tentando te esquecer
E você por mais longe que esteja
Ainda tem uma parte aqui
A ponte que nos une, recusa-se em cair
Então volta, vem correndo pra mim.
(Carlos Klei - 2009)
